segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Tudo Para Não Gritar

Às vezes dou por mim
E não estou no meu corpo.
Vejo-me um manequim
Controlado e morto.

Sinto mas não digo,
Rio-me para não chorar,
Abraço para não espancar,
Corro para não gritar.

O vento bate-me na cara
Levando o meu cancro.
Solto um grito mudo
Ficando vazio de lágrimas.

Nojo, merda, esgoto,
Excremento, porra, esterco,
Tudo se mete à minha frente!
Chove, troveja, mas corro...

Corro que nem um doido
Preso no manicómio,
Tudo para não gritar
Nem sentir o verdadeiro ódio.

O granizo esbofeteia-me
Congelando o sangue exposto.
Fico cego de tanta raiva,
Dói tudo, sufoco, mas corro...

Só oiço buzinadelas
E as sirenes atrás de mim,
Mas corro no meio da estrada,
Não quero saber de nada.

Tudo em mim rasga.
Roupa, garganta e artérias.
Veias, voz e vómitos,
Mas eu corro por uma nesga.

Agarram-me a camisola.
Dispo-a irritado,
Solto um rugido
E esmurro como um tarado.

Paro bruscamente,
Rio-me de toda a gente.
Olham-me com espanto
Pois ganhei um outro encanto.

O alívio invade-me
E um trovão... sacode-me!

Miguel Cruz
3 de Dezembro de 2009