sábado, 9 de abril de 2011

Antíteses da Vida

Sou um rio seco, com nascente, mas sem foz. Gosto de antíteses, contrários e antónimos. Mas utilizo os sinónimos para os poder realçar. Ultimamente são lábios secos que molham os meus. Não têm nada em si, mas tudo o que têm dão a quem amam. Sou um poço seco de lágrimas. Todas as que se formam choram para dentro e trancam a porta de saída atrás de si. Todas as portas do meu corpo estão trancadas e nada deixam sair. Apenas os suspiros conseguem voar, mas nada levam consigo. São suspiros secos que só servem para esvaziar um pouco mais o peito e melhor sentir o deserto que existe dentro de mim. Todos os meus movimentos são movimentos sem objectivo. Movo a cabeça em busca de algo que não existe. Em busca de algo que nem eu sei o que é… Porque não existe. Todas as minhas frases se perdem pela ilógica. A última frase que escrevi foi uma frase em inglês e que era feita de “I never realised”. Mas o que é que eu nunca percebi? Não sei… Talvez muita coisa… Talvez nada… Mas acredito mais no nada, porque é o nada que me governa. É o nada que comanda o meu corpo. Mas comanda-o sem rumo. E como alguém de sabedoria me disse “Sem rumo, não existe vento a favor”. Deixo-me navegar no meio do oceano de lágrimas dos outros. Deixo-me levar. Já não faço as coisas com os objectivos devidos. A última vez que peguei na guitarra foi para desafinar as cordas. A última vez que olhei para a Lua foi para a ver. A última vez que vi a Lua, foi para dizer que o fiz. Antes, olhava para a Lua e via-a. Via a Lua e inspirava-me para algo. Mas agora posso estar o mais inspirado possível, mas não encontro nada para utilizar essa inspiração. Sinto um aperto constante no peito. Acredito que seja o esvaziamento através de suspiros. Suspiros estes que já não me libertam dos males, mas me prendem neles. Houve alguém de sabedoria que me contou uma história um dia. Uma história que se resumia na questão “quem está pior? O tetraplégico ou o paraplégico?” e que se concluía na simples frase “o humano é um Ser insatisfeito”. Se tem pão, é porque não tem manteiga. Se tem manteiga é porque não tem queijo. Se tem queijo é porque não tem fiambre. Mas fico na dúvida se me deva mesmo queixar ou não. Se me queixo, sinto-me mal porque há gente pior. E aqui entramos na discussão do nu e do mal vestido, do sozinho e do mal acompanhado. Se não me queixo, sinto-me mal porque todos se queixam, menos eu, que a meu ver tenho os problemas mais graves. Mas isso é algo inquestionável. Os meus são mais graves, porque os dos outros não me doem. É engraçado. Ultimamente tenho andado com necessidade de me libertar de forma violenta. Apetece-me rasgar os livros por onde estudo para um futuro incerto. Apetece-me partir o computador que me dá a conhecer todo o mundo, mas me retira do meu próprio mundo. Apetece-me partir a guitarra que me faz feliz por me dar música, mas que me deixa frustrado por não a conseguir fazer. Apetece-me bater nas pessoas que me magoam, mas são essas pessoas que me importam. Porque me haveriam de magoar se não fizessem parte da minha vida de modo tão intenso? É como estar dum lado do muro e tentar limpar o graffiti desenhado do outro lado. Sou um rio com nascente, mas sem foz. Existe onde eu posso chegar, mas não a encontro. Estou do lado de fora de mim a tentar encontrar algo que está dentro de mim. Preciso de encontrar a chuva que me poderá encher e encaminhar-me até ao meu destino, que se encontra na foz que se liga ao Mar, à minha vida.

“I never realised why I didn’t think about this before”.

Miguel Cruz

9 de Abril de 2011