quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Diálogo a Três

“Pétala, para onde vais tu?”

“Irei para onde tu me levares, meu vento!”

“Estará ao meu critério?”

“Perdi os meus sentidos por ti, agora sou tua!”

“Então serás minha até conheceres a flor que largaste quando eras verdinha!”

“Reconhecer-me-á ela?”

“És pedaço dela.”

“Serei?”

“Descobre por ti!”

“Minha mãe?”

“Estás tão linda, minha filha!”

“Desculpa-me ter-te largado pela minha teimosia.”

“A púrpura tomou conta da tua teimosia.”

“Não vás, minha mãe.”

“Irei, mas deixarei um belo pedaço meu cá.”

“Serás feliz?”

“Serei paciente até encheres uma vida.”

“Como o faço?”

“Tu própria o descobrirás, doce filha.”

“Minha mãe?”

“Partiu, minha pétala!”

“Doeu?”

“Irá doer, mas de saudade!”

“Conseguirei encher uma vida?”

“Apenas sê tu!”

“E ela?”

“Ela encheu uma vida e deu-a a ti para a continuares.”

“Leva-me!”

“Minha serás!”

“Para sempre!”

Miguel Cruz

17 de Fevereiro de 2011

3 comentários:

Eunice disse...

Interpretei este diálogo como a descriçao do que acontece a todas as pessoas. Todos deixamos os nossos pais para nos entregarmos á pessoa que amamos. Mas essa pessoa, embora nos encha de uma dada maneira, não nos enche com o amor caracteristico de mae. São amores diferentes. Tu enches-me, mas o teu amor não se compara ao amor da minha mãe. =) <3

Maggie disse...

Sentidos postos à prova neste texto. Um "triálogo" um pouco confuso na lineariedade que podia ter a vida. Por vezes temos de deixar aqueles que nos amam acima de tudo, para podermos ganhar a nossa autonomia, a nossa força.
Mas algo que aprendi há muito tempo atrás de uma frase de E.e. Cummings é que podemos levar as pessoas que mais amamos connosco para onde formos - "I carry your heart, I carry it in my heart".
Continua as escritas ;)

Mariana Brás Carvalho disse...

LINDO!!!! Adorei