sábado, 22 de setembro de 2012

Incerto



Hoje pareces agreste, Mar.

Talvez seja melhor eu aguardar a tua calma. Talvez seja melhor ver-te explodir nas rochas, ficando ao longe a sentir a brisa das tuas ondas, apenas.
Grito. Palavras minhas esvaziam-se na tua imensidão. Mas grito. Desejo a calma e o sossego tanto como tu. E nessa tentativa, sopro contra todos os ventos que nos confrontam. Levanto apenas meia dúzia de grãos de areia.
Mas fico e lembro-me que todos os ventos são passageiros. Aproveito a lembrança para sentir a frescura dos teus cabelos soltos nos meus pés. Como quem me puxa.
Dispo-me, então. A mesma imensidão que sugou minhas palavras, puxa-me agora a mim. Corro para ti, mergulho em ti e afogo-me em ti.
Como algas, as palavras perdidas prendem-me o pé. Grito-as de novo, sem cessar. Tento nadar contra as ondas ferozes. Sinto a violência de uma tempestade, enquanto subo e desço, procurando o ritmo da arritmia. Luto pela salvação de quem me afoga, mais do que pelo ar que me falta.
Por fim, encontrando o ritmo, toda a tempestade se mostra numa dança. Deixo-me levar, passo por passo, caminhando para a miragem enformando a calmaria.
Lá em cima as nuvens desvendam um Sol longínquo. Logo a espuma desaparece com as suas ondas. Logo os brilhos faíscam espalhados nos teus suaves movimentos. Mergulhado em ti, apenas me deito na superfície, respirando. Respirando enquanto ouço a tua respiração e adormecendo no leito de areia em que me deixaste.
Agora os cabelos soltos acariciam-me longamente os pés.
Hoje pareces um espelho, Mar. Olha.
Olha com atenção. Vê como és belo!

Miguel Cruz

13Setembro2012
(P.)

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