Hoje pareces agreste, Mar.
Talvez seja melhor eu aguardar a tua calma. Talvez seja melhor ver-te explodir
nas rochas, ficando ao longe a sentir a brisa das tuas ondas, apenas.
Grito. Palavras minhas esvaziam-se na tua imensidão. Mas grito. Desejo a calma
e o sossego tanto como tu. E nessa tentativa, sopro contra todos os ventos que
nos confrontam. Levanto apenas meia dúzia de grãos de areia.
Mas fico e lembro-me que todos os ventos são passageiros. Aproveito a lembrança
para sentir a frescura dos teus cabelos soltos nos meus pés. Como quem me puxa.
Dispo-me, então. A mesma imensidão que sugou minhas palavras, puxa-me agora a
mim. Corro para ti, mergulho em ti e afogo-me em ti.
Como algas, as palavras perdidas prendem-me o pé. Grito-as de novo, sem cessar.
Tento nadar contra as ondas ferozes. Sinto a violência de uma tempestade,
enquanto subo e desço, procurando o ritmo da arritmia. Luto pela salvação de
quem me afoga, mais do que pelo ar que me falta.
Por fim, encontrando o ritmo, toda a tempestade se mostra numa dança. Deixo-me
levar, passo por passo, caminhando para a miragem enformando a calmaria.
Lá em cima as nuvens desvendam um Sol longínquo. Logo a espuma desaparece com
as suas ondas. Logo os brilhos faíscam espalhados nos teus suaves movimentos.
Mergulhado em ti, apenas me deito na superfície, respirando. Respirando
enquanto ouço a tua respiração e adormecendo no leito de areia em que me
deixaste.
Agora os cabelos soltos acariciam-me longamente os pés.
Hoje pareces um espelho, Mar. Olha.
Olha com atenção. Vê como és belo!
Miguel Cruz
13Setembro2012
(P.)
13Setembro2012
(P.)