E não estou no meu corpo.
Vejo-me um manequim
Controlado e morto.
Sinto mas não digo,
Rio-me para não chorar,
Abraço para não espancar,
Corro para não gritar.
O vento bate-me na cara
Levando o meu cancro.
Solto um grito mudo
Ficando vazio de lágrimas.
Nojo, merda, esgoto,
Excremento, porra, esterco,
Tudo se mete à minha frente!
Chove, troveja, mas corro...
Corro que nem um doido
Preso no manicómio,
Tudo para não gritar
Nem sentir o verdadeiro ódio.
O granizo esbofeteia-me
Congelando o sangue exposto.
Fico cego de tanta raiva,
Dói tudo, sufoco, mas corro...
Só oiço buzinadelas
E as sirenes atrás de mim,
Mas corro no meio da estrada,
Não quero saber de nada.
Tudo em mim rasga.
Roupa, garganta e artérias.
Veias, voz e vómitos,
Mas eu corro por uma nesga.
Agarram-me a camisola.
Dispo-a irritado,
Solto um rugido
E esmurro como um tarado.
Paro bruscamente,
Rio-me de toda a gente.
Olham-me com espanto
Pois ganhei um outro encanto.
O alívio invade-me
E um trovão... sacode-me!
Miguel Cruz
3 de Dezembro de 2009
1 comentário:
Adoro este texto. Acho realmente que o devias mostrar a professora Supico. Não perdias nada e não é uma asneira que lhe vai tirar qualidade. Amo-te, E <3
Enviar um comentário